CAPES celebra mês da mulher com debate sobre equidade na ciência
O encontro evidenciou a contínua batalha por equidade de gênero no meio acadêmico, discutindo desde os desafios estruturais enfrentados por pesquisadoras até a necessidade urgente de ampliação da representatividade feminina nos espaços de decisão científica
Como parte das comemorações do mês da mulher, a CAPES promoveu uma roda de conversa sobre os desafios e conquistas das mulheres na ciência. O encontro contou com a participação da presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, da membra do Comitê Permanente para Equidade de Gêneros e Intersecções da CAPES, Daniela Santos Anunciação, da coordenadora-geral de fomento da CAPES, Priscila Lelis Cagni e da coordenadora-geral de Assuntos internacionais da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC), Jaqueline Pinheiro Schutz, que foi a mediadora do evento.
O protagonismo feminino no desenvolvimento da ciência, pesquisa e ensino no Brasil tem sido notavelmente crescente nos últimos anos. Dados da CAPES mostram que, do total de 407 mil alunos de mestrado e doutorado no país, 224 mil são mulheres. Elas representam uma maioria significativa, totalizando 55% dos matriculados em cursos stricto sensu. Apesar desse avanço numérico, os desafios que as mulheres enfrentam ao buscar uma carreira destacada na ciência ainda são inúmeros.
Destacam-se como desafios a dificuldade de progredir na carreira, os estereótipos sociais sobre o papel da mulher, os diversos tipos de assédio e a conciliação entre responsabilidades domésticas, acadêmicas e profissionais.
Denise Pires de Carvalho compartilhou sua trajetória, lembrando que foi orientada por mulheres durante sua formação acadêmica. A presidente ressaltou que as pioneiras na área biomédica nos anos 1970, muitas vezes, abriram mão da maternidade para dedicar-se à pesquisa. “Houve avanços, mas a igualdade de gênero ainda está longe de ser alcançada. Precisamos de políticas efetivas e de maior conscientização sobre as dificuldades enfrentadas”, afirmou a presidente.
A membra do Comitê Permanente para Equidade de Gêneros e Intersecções da CAPES, Daniela Santos Anunciação, destacou que é fundamental olhar para o passado e entender a responsabilidade atual de abrir novos caminhos. "É preciso criar um ambiente onde todos se sintam seguros para expressar suas experiências e desafios. Somente assim poderemos começar a construir a equidade necessária", comentou Daniela.
A coordenadora-geral de fomento da CAPES e especialista em neurociência, Priscila Lelis Cagni, enfatizou a importância da capacitação contínua e da representatividade feminina em espaços decisórios. “Participei de cursos de liderança e capacitação para mulheres desde o início da minha jornada na CAPES. Essa iniciativa é essencial para reduzir o viés de gênero”, afirmou.
A discussão também abordou fenômenos como o "efeito tesoura" e o "teto de vidro", que demonstram como, embora as mulheres representarem cerca de 50% dos pesquisadores no Brasil, ainda persiste uma predominância masculina em cargos de liderança. Denise Pires de Carvalho alertou: “Cada avanço pode representar um retrocesso potencial”, destacando a necessidade de comitês verdadeiramente igualitários e de medidas concretas para garantir igualdade salarial e equidade de gênero.
O evento consolidou-se como um espaço fundamental para reflexão sobre os obstáculos enfrentados por mulheres no meio acadêmico-científico, reafirmando o compromisso institucional da CAPES em promover um cenário mais equitativo na ciência. Durante a roda de conversa, ao mesmo tempo em que se celebraram as conquistas já alcançadas, destacou-se a necessidade de persistir na construção de trajetórias profissionais mais inclusivas e igualitárias.