Notícias CRÔNICA PARA TODAS AS MÃES

CRÔNICA PARA TODAS AS MÃES

Publicado: 15/05/2012 17:47 Última Atualização: 30/04/2013 17:50

‘O que representa ser mãe?' Eu fiquei pensando nessa frase por alguns dias, sem conseguir sequer encontrar uma resposta... Fui mãe ainda jovem. Mal conseguia segurar meu filho nos braços. Aprendi a trocá-lo, lavar suas fraldas de algodão, alimentá-lo, seguindo todas as orientações da Revista Pais & Filhos. Ficava horas a observá-lo, não me cansava de fitá-lo, de querer descobrir o que aqueles olhos azuis queriam me contar, tentavam me revelar.

Era um sentimento tão profundo, de um amor que brotava intenso, supremo, de dentro de mim. Penso que eu ainda não havia assimilado a verdadeira profundidade desse sentimento, que se revelava dia após dia.

Passados três anos, já havia vivenciado uma série de experiências, de dissabores e de amarguras, de alegrias e de conquistas, quando fui mãe pela segunda vez. As desilusões provocaram em mim o desejo de que daquela segunda gravidez, resultasse uma mulher forte, independente, segura de si, que desse um basta à mulher frágil, ainda menina e insegura que eu era; além disso, eu queria mais: que o bebê que ali chegava, pudesse ser, um dia, o que eu não era naquele momento. Minha filha chegou algumas horas depois do previsto: forte, determinada, segura de si, lutando para conquistar seu espaço fora de meu ventre... Ela, hoje, é como eu queria ter sido!

Eu ainda não sabia, mas não tinha o entendimento do que representava ser mãe. Porém, me desdobrava em várias personalidades, em várias metamorfoses de outras mães, de modo a protegê-los, alimentá-los, educá-los com respeito, com amor, transmitindo-lhes valores e sentimentos que, quem sabe, eles poderiam aplicar em suas vidas mais tarde. Como tinha medo de estar fazendo tudo errado! Como me sentia incapaz de orientá-los, de ensinar a eles o que eu acreditava como certo! Meu coração me conduzia, me inspirava... Meus desejos de estar agindo corretamente é quem me mostravam os caminhos, os exemplos a serem seguidos...

Quando acreditava que ainda não sabia o que representava ser mãe, pois estava aprendendo a lidar com a adolescência deles, quando meu útero já dava os primeiros sinais de desgaste, fui surpreendida ao ser mãe pela terceira vez... Já me aproximava dos 40 anos e, meu corpo e mente resistiam, implacavelmente, em ter que vivenciar, mais uma vez, todo esse processo de uma maternidade tardia....

Ah, como se fosse um raio de luz que surge entre as tempestades, ela chegou, antes da hora, muito antes. Nos fez repensar sonhos e planos. Seus olhos escuros, profundos, porém dona de um olhar doce e sereno, sempre abertos, atento a tudo e todos à sua volta, nos transformou, pais e irmãos, de modo que nos redescobríssemos, um no outro.

Voltei a ser mãe, a trocar fraldas, a passar noites e noites acordada, agindo do mesmo jeito que agia anos atrás. Pensei que aquela terceira maternidade me transformaria numa mãe mais madura, mais eficiente, sempre apta e capaz, experiente... Que nada! Percebi assustada, que eu ainda era a mesma menina que engravidou nos fins de minha adolescência. Estava com medo, insegura... E o futuro, como seria@f0

Dezesseis anos já se passaram. Hoje, me considero uma mãe com uma alma que, em alguns momentos se revela jovem, em outros, madura e envelhecida, mas não tão diferentes da alma de menina de outros tempos. Tenho três filhos: dois já adultos e um adolescente... Não é somente a idade que os diferencia; eles são diferentes entre si e semelhantes ao mesmo tempo. Ao se identificarem e se reconhecerem como irmãos, por serem determinados a conquistar seus espaços, a lutar por seus sonhos, a brigar pela vida. Vejo amor e generosidade dentro deles; Vejo a alma deles repleta de coragem; Vejo seus olhos brilharem, e ouço a batida forte de seus corações, quando me contam seus planos, quando confidenciam seus problemas, quando confiam a mim seus mais íntimos segredos... É segredo! Não conto nem sob tortura! Quantas vezes eu chorei, com e por eles, pelas desilusões e decepções que já vivenciaram; também, pelas vitórias alcançadas... Mas eles não sabem, chorei também quando eles me magoaram, quando dirigiram a mim palavras que fizeram com que eu me sentisse a última das mães, a mais imperfeita de todas; Ah, como chorei, escondida, sem que ninguém soubesse, por se impotente e não poder ajudá-los quando precisaram de mim, ao me pedirem conselhos que não pude dar, ao esperarem palavras de conforto que estavam guardadas, escondidas e que não saíram quando ele mais esperavam... Falhei, sim! Mas tentei, sempre que me foi possível, ter sido uma boa mãe...

Brigo com o tempo todos os dias de minha vida, pois apesar de não poder gerar outros filhos, ainda quero a oportunidade de vivenciar a experiência de ser avó, de conhecer meus netos e ser lembrada por eles... De tentar fazer certo, ao menos dessa vez! Preciso de tempo, muito tempo...

Quando menina, vi minha mãe grávida. A lembrança mais nítida que tenho dessa época é vê-la sentada na varanda de nossa casa simples, com um desses bastidores que as bordadeiras fazem uso, tecendo um bordado, desenhado por ela, para o enxoval do bebê que estava para chegar. Foram nove meses bordando e bordando, todas as tardes, enquanto brincávamos, eu e meus irmãos, no quintal, despreocupados com nosso futuro.

Ao final desses noves meses, minha mãe voltou para casa sem o bebê tão esperado, com um corte profundo no abdômen. Quinze anos mais tarde, quando eu já me tornara mãe, ela se foi, deixando-me, sozinha, com minhas duas crianças no colo. Eu ficava sem a proteção, sem o amor e o carinho, sem as palavras sábias de minha mãe e, meus filhos, jamais conheceriam a beleza de terem convivido com a avó. Parece que foi outro dia! Mas já passou!

Restam as lembranças, profundas e marcantes em minha alma de menina, mulher e mãe. Restam, também, os ensinamentos, os valores que adquiri com aquela mulher simples, sem instrução, que contava histórias para os filhos, seja à beira de uma fogueira nas noites de São João, seja na varanda da casa, quando faltava energia, e até mesmo, nas noites de tempestades de verão. Ainda não tive coragem de perguntar a meus filhos qual a lembrança mais marcante que eles terão de mim. Talvez eu pergunte nesse próximo Dia das Mães!

Assim, creio que ser mãe é ser como foi minha mãe, simples, singela, porém forte e capaz de abrir mão de sua própria vida, de se dar inteira para tornar esses filhos, amanhã, pais melhores que eles foram... É ser como todas as mães, perfeitas ou não, felizes ou não, mesmo àquelas que não sintam orgulhos de seus filhos, que vivenciam dissabores e amarguras... Saibam que elas existem!

Ser mãe é doar de si a um novo ser, que toma conta do seu corpo e, depois esse ser se apossa de sua alma, transformando seu coração e pensamentos... Ser mãe é ter consciência e sabedoria... Ser mãe é a soma de uma infinidade de sentimentos e valores, indescritíveis, que se multiplicam todos os dias, e que ainda tento descobrir... Talvez, quando passar a representar a personagem avó, eu consiga descobrir o que é ser mãe, ao ver minhas filhas serem mães!

Ser mãe, também, é permitir que de meu ventre, a dor incomparável a outra qualquer, seja acalentada pela vida que anseia pela liberdade, pela vida que se apercebe em um outro mundo... É o filho que chega, para ser acolhido por uma mulher que denominaram de mãe... Ela estará lá, de braços abertos, para recebê-lo com um amor que não se iguala a outro sentimento... Dedico este texto para àquelas mulheres que, por alguma razão, não podem ser mães, mas que trazem dentro de si um amor maternal indescritível... Para todas as mulheres que são mães, que foram mães e, para àquelas que ainda o serão...

Dayse Benigna Bernardo Araujo Gomes