Uma crônica de natal
Autoria: Dayse Benigna Bernardo Araujo Gomes
Quando eu contava meus seis anos de idade, ainda na Favela da Rocinha, durante a época de festas natalinas, havia um sistema de som com alto falante que se fazia ouvir por toda a favela, tocando, durante todo o dia, uma dessas músicas de Natal, sugerindo a nós, crianças, para colocarmos um 'sapatinho na janela do quintal'. Quem mora no morro não tem quintal, mas uma espécie de beco e ruelas que dá acesso a outros barracos.
Menina de morro, nos anos 60, com o coração repleto de sonhos, falei com minha mãe que eu gostaria de colocar o meu sapato na janela que dava para o beco. Minha mãe incentivou-me a colocar o único par de sapatos que eu tinha, mas observando que eu deveria ficar 'vigiando', a fim de evitar que 'alguém' pudesse levá-los. Lembro-me, nitidamente, que passei o dia ali, por perto, aguardando com ansiedade a chegada de Papai Noel. Ao entardecer, minha mãe recomendou que eu tirasse os sapatos, pois estava chovendo muito e Papai Noel não poderia subir o morro naquela noite de Natal. Ela não se deu conta, mas apesar da pouca idade, eu entendi perfeitamente o que ela quis dizer.
Papai Noel não veio, nem naquela noite, no morro, como também em outras noites de minha vida, por onde eu tenha passado. E, hoje, com o passar dos anos, ainda sei a letra daquela música.
A menina que ainda mora em mim, tem muita vontade de colocar algum sapato na janela de minha casa, que continua não dando para um quintal de verdade. Porém, mais um Natal chegou e, tal qual como quando era criança, a exemplo de outras tantas crianças e muitos adultos por aí, ainda desejo que Papai Noel me trouxesse presentes maravilhosos, daqueles que só o dinheiro (E, muito dinheiro!) pode comprar, que concretizasse diversos sonhos, materiais, principalmente... Todos querem isso!!!
Mas hoje, com o ano que se encerra, difícil para uns, maravilhoso para outros, o que eu quero mesmo, é que neste NATAL e ANO NOVO, o Papai Noel, aquele de minha infância, possa colocar no meu sapatinho e no de todos àqueles que estão à minha volta, família, amigos, parentes, vizinhos, professores, companheiros dessa jornada, sem distinção, a renovação da fé e da esperança, acalentando o espírito de todos que passaram por frustrações, aflições, decepções, dissabores e angústias; que esse Papai Noel possa enxugar todas as lágrimas... Possa, também, preservar, bem como, promover, a alegria e a felicidade, prosperidade e realizações, conquistas, muitas, inúmeras, dentro de cada um de nós; que possa abrandar a dor e a amargura; que transmita força e coragem, determinação e vontade de viver, de crescer, de progredir, e de renascer, proporcionando ao corpo e ao espírito, a saúde, a paz, a serenidade... Que esse Papai Noel possa presentear, tanto a mim quanto aos que estão à minha volta, com o espírito de Natal, transformando-nos em pessoas melhores, bem melhores do que temos sido, para que tenhamos condições de desejar, de coração, uns aos outros, um Feliz Natal, que nossas vidas se encham de luz e paz, de amor e caridade, de compaixão e humildade, de compreensão e entendimento daquilo que realmente dá sentido ao Natal, pois como a música daqueles anos: '...Papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico, seja pobre, o velhinho sempre vem'!