Carlos Nobre realiza palestra sobre Mudanças Climáticas no Dia do Servidor
Nesta quarta-feira, 28, os servidores da Capes tiveram oportunidade de assistir uma palestra sobre o tema das Mudanças Climáticas ministrada pelo climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas do assunto no mundo e que, desde maio deste ano, é presidente da Capes. A conversa fez parte das comemorações do Dia do Servidor Público e o objetivo da Diretoria de Gestão foi promover, como em anos anteriores, um debate científico cujo tema envolve toda a sociedade.
Antes da palestra, o presidente aproveitou a data para lembrar que ele também é um servidor público da carreira de Ciência e Tecnologia. "Sou um de vocês, minha carreira foi toda realizada no serviço público, iniciada no Instituto de Pesquisas da Amazônia, 1974. Por isso meu principal desejo nessa data é que se sintam bem, realizados e felizes na nossa área. Uma carreira importante para o país, no presente e no futuro", definiu.
A explanação de Nobre deu um panorama sobre as condições climáticas do planeta e do Brasil em pouco mais de meia hora. "A vida na Terra existe há pouco mais de 3 bilhões de anos, o planeta já viu todo tipo de clima. A temperatura média já foi 70 °C, ao mesmo tempo, já tivemos toda nossa superfície coberta por gelo. Por que estamos preocupados com essas mudanças agora então? Estamos vivendo em um processo global de aquecimento nos últimos 100 anos, especialmente nas últimas cinco décadas. Em média a temperatura do planeta aumentou 0,8 °C nos últimos 120 anos. Essa medição é de quando começamos a poder ter um monitoramento global da temperatura, a partir da década 1860, com os primeiros termômetros em navegações."
Uma pergunta que surge é porque existe uma mobilização com esse aparente pequeno aumento de 0,8 °C graus em 100 anos, se no dia a dia temos variações de temperatura muito maiores? "No pico da última glaciação, 20 mil anos atrás, a temperatura era 5 graus mais baixos que hoje. Foram mais ou menos 10, 12 mil anos para aquecer 5 graus. O aquecimento em geral é um processo lento, mas colocamos o pé no acelerador do aquecimento e o que era um evento que durava milhares de anos, agora está acontecendo numa velocidade que não tem paralelo nos últimos 20 milhões de anos. Isso é algo novo para a nossa espécie, estamos quebrando uma estabilidade climática dos últimos 12 mil anos", ressaltou.
A causa desse processo, explica Nobre, é a injeção de gases do efeito estufa. "Em ciência não existe dogma, essa é a melhor explicação. O sol tem diminuído a força da radiação, mas ainda assim 2015 será o ano mais quente dos últimos 160 anos. Há um raro consenso científico nessa área, 98% dos cientistas concordam com esse diagnóstico."
E o que pode acontecer no futuro? Para o climatologista, depende da nossa ação conjunta, de como podemos diminuir as emissões. Boa parte disso é geração de energia, com queima de combustíveis fosseis (petróleo, carvão e gás), agricultura, pecuária, desmatamento, lixões e outras indústrias. "Haverá uma conferência em Paris em breve para que globalmente cheguemos em um grande acordo para não deixar a temperatura ultrapassar 2 °C. Se congelarmos hoje as emissões, o planeta ainda aquecerá 1,5 °C. O objetivo é, portanto, tentar chegar até 2100 em emissão zero, ou mesmo negativa - com plantações de árvores por exemplo."
Carlos Nobre alertou que os estudos mais recentes apontam que o aquecimento global pode trazer consequências graves não apenas para a biodiversidade, mas para o próprio futuro da espécie humana. "Há uma situação chamada hipertermia: quando a temperatura chamada de bulbo úmido alcança de 35 °C, nosso corpo não consegue perder calor, não consegue transpirar nem irradiar. Nesse ponto, o metabolismo entra em colapso e a pessoa morre. A mudança climática pode tornar essa condição possível no futuro. Com os recordes de temperatura das últimas semanas, situação semelhante aconteceu na cidade de Cuiabá (MT). Cientistas do golfo pérsico chegaram à conclusão de que se a Terra aumentar 7 graus, teremos em muitos lugares essa condição hostil à vida humana, em que uma pessoa saudável só sobrevive por seis horas".
Diante desse cenário negativo e por conta de uma impossibilidade fisiológica de adaptação, Carlos Nobre defende uma mudança de hábitos. "Com um aumento de 7 graus, 30% do Cerrado, parte do sul da Amazônia terão picos de mais de 6 horas de 35 °C de bulbo úmido, um cenário possível para o século 22. Isso significa que ou nos tornaremos raros ou viveremos em ar-condicionado – um custo enorme de energia, que pode piorar ainda mais o problema. Com esse limite fica claro que não há outro caminho a não ser reduzir. Vamos tornar o planeta inabitável para nós mesmos. Precisamos de uma nova postura da humanidade", concluiu.
(Pedro Arcanjo)