Notícias Cada brasiliense joga fora 2,4kg de resíduos por dia

Cada brasiliense joga fora 2,4kg de resíduos por dia

Publicado: 26/01/2010 16:22 Última Atualização: 30/04/2013 17:50

Naira Trindade do Correio Braziliense
Publicação: 26/01/2010 8h43

O brasiliense produz cada vez mais lixo. Todos os dias, quase 2 mil toneladas de resíduos sólidos são coletadas pelos caminhões do Sistema de Limpeza Urbana (SLU) em todas as regiões administrativas. O último levantamento do órgão de limpeza mostra que, em 2008, foram recolhidas 699 mil toneladas desses materiais descartados. São 34 milhões de quilos a mais que o ano anterior, em 2007. A quantia daria para encher mais de 1,360 milhão de caminhões de lixo, com capacidade de 25 toneladas. O consumo elevado e o alto poder aquisitivo da população são os principais responsáveis pelo aumento na produção de resíduos no Distrito Federal.

lixao

Cada morador da capital produziu em 2008, em média, 2,4 quilos de lixo por dia. Foram 876kg de resíduos por pessoa - quase uma tonelada - jogados na lixeira durante todo o ano. Em 2007, a quantidade de lixo per capita chegou a 616kg no DF. Dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, apontam o DF como o maior produtor de resíduos sólidos do país.

O levantamento analisa dados de 2007, quando cada brasiliense fabricou 1,96 quilo de lixo por dia, três vezes mais que o morador de Minas Gerais ou o do Amapá, por exemplo. Em segundo lugar na produção de dejetos está o paraibano, com 1,56 quilo a cada dia. Em terceiro, vem o alagoano, que despejou diariamente 1,47 quilo nas lixeiras. O estudo abrangeu mais de 83,8 milhões de pessoas. De acordo com os dados da SNIS, a média nacional ficou em 1,17 quilo diário.

No DF, o Plano Piloto - abrangendo as asas Sul e Norte e o Sudoeste, na classificação do SLU - lidera o ranking dos maiores produtores de lixo. São 142,8 mil toneladas coletadas por ano, média mensal de 11,9 mil toneladas de resíduos. Em seguida, aparece Taguatinga, com descarte anual de 100,5 mil toneladas de dejetos, em média, 8,3 mil toneladas por mês. E a terceira colocação fica com Ceilândia, com produção anual de 93,5 mil toneladas de lixo, em média 7,8 mil toneladas de resíduos por mês.

O alto número de detritos coletados no Plano Piloto em relação às outras cidades é explicado pelo gerente de orientação e fiscalização do SLU, Fábio Gama, pela concentração de hospitais e também de órgãos públicos, comércios e restaurantes. O Correio percorreu algumas das principais áreas da Asa Sul e registrou a movimentação de funcionários ao desfazer dos detritos. O aumento populacional do DF não pôde ser usado como justificativa em relação a 2007 a 2008, pois, de acordo com a tabela do SLU, em 2007 havia 2.438.970 habitantes no DF e, em 2008, o número caiu para 2.422.490 moradores. "O poder aquisitivo do brasiliense aumentou muito. Um exemplo é a quantidade de carros nas ruas. As pessoas estão comprando mais e, consequentemente, descartando mais", explica o superintendente substituto do SLU.

Separação
Apenas 35% do lixo produzido na região central de Brasília é separado por coleta seletiva. O restante é despejado em aterros, principalmente o Lixão da Estrututal, o que oferece sérios riscos ao meio ambiente. Uma pequena parcela do material é reaproveitada por catadores, como o morador de Santo Antônio Descoberto (GO) Elias Oliveira Andrade, 64. Há mais de 20 anos, ele compra e vende materiais encontrados nos lixos do DF. "O lixo aumentou muito, mas perdeu seu valor. Eu sustentei seis filhos com o dinheiro retirado de materiais reutilizáveis recolhidos nas ruas. Agora, consigo pagar as contas de águas, luz e supermercado", afirma o homem, que antes era pintor. "Perdi tempo na construção civil. O salário que retirava no lixo era pelo menos três vezes maior que o adquirido pintando uma casa inteira." Hoje, o catador emprega indiretamente com o reaproveitamento de lixo três funcionários, tem um caminhão particular e construiu uma casa.

Elias pega o lixo deixado por moradores ao longo da Asa Sul. Ele passa antes do serviço de limpeza pública e retira parte dos produtos dispensados nos pontos de coleta. Os resíduos reservados à coleta seletiva são levados pelos caminhões para a usina de reciclagem no fim da Asa Sul. Lá, são depositados com outros produtos trazidos da Asa Norte e Sudoeste, impossibilitando identificar a quantidade de cada área separadamente. O SLU pretende ampliar o serviço de coleta seletiva para outras cidades do DF, mas, primeiro, precisa atingir um número maior de pessoas que façam a seleção do produto no Plano Piloto e no Sudoeste. "Falta uma estruturação para irmos para outras regiões. Não podemos sair sem antes conseguirmos mais colaboração da população da área central de Brasília, onde apenas 35% dos moradores selecionam o lixo antes de despejá-lo na lixeira. É necessário que a população tenha mais consciência e comece a separar os resíduos de maneira que ele seja reaproveitado, como não rasgar o papel e jogá-lo fora inteiro", completa Gama.

Material reciclável
A coleta seletiva é a coleta diferenciada - pós-separação do lixo - do material reciclável, o que facilita a sua reutilização ou reciclagem. É preciso que haja estrutura para isso, ou seja, caminhões diferentes dos veículos que levam os resíduos não recicláveis e centros de triagem, onde catadores separarão os produtos. Também é necessário que a população faça a sua parte, despejando em lixeiras diferentes o lixo seco do orgânico.

Diferenças
Lixo orgânico
Restos de alimentos, cascas de frutas, legumes e ovos, flores, caules, folhas de árvores e hortaliças, sacos de chá e café, aparas de madeira, cinzas, resíduos de banheiro (papel higiênico e absorvente usados).

Lixo seco
Papel, papelão, jornais, revistas, cadernos e embalagens tipo longa vida, alumínio, bronze, cobre, sucatas de ferro, latas, panelas, fios e correntes, vidro (inteiro ou quebrado), vasilhames de produtos de higiene e limpeza, copos descartáveis, sacos, sacolas, caixas e tubos de PVC, garrafas e embalagens plásticas, brinquedos e utensílios quebrados.

ranking

(Correio Braziliense - Meio Ambiente)