Dia Mundial Da Água
Sustentáveis e lucrativas
Além de garantir economia financeira, o uso racional dos recursos naturais tornou-se diferencial para muitas empresas brasileiras
Conscientes da importância de adotar atitudes para preservar o planeta e atender à crescente cobrança dos consumidores por produtos e serviços que causem menos impacto ambiental, muitas empresas estão empenhadas em contribuir com o desafio de utilizar racionalmente a água. Além de uma sensível diminuição dos gastos, muitos projetos cobram dos funcionários mudanças de atitude. A Empresa de Processamento de Dados do Governo Federal (Serpro) é exemplo desse novo comportamento. Após realizar uma pesquisa para descobrir os locais que mais gastavam água no órgão, engenheiros da empresa chegaram ao vilão: o banheiro. O analista e engenheiro mecânico Sebastião Celso Portugal, que participou do projeto desde o início, conta que um pequeno investimento na reestrutuação do sistema de descargas produziu a redução de 90% no consumo de água.
"Como não há chuveiros nas empresas, o banheiro fica encarregado do maior gasto de recurso hídrico. Nossa solução foi instalar o sistema de sanitário à vácuo, exatamente como nos aviões. Não só reduzimos a quantidade de água como também o volume de dejetos jogado nos esgotos", orgulha-se. Segundo ele, antes da reforma, um banheiro consumia, em média, 10 litros de água, quantidade reduzida para 1,2 litros depois da adoção do equipamento.
Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os custos com água já representam de 1% a 4% do faturamento de uma empresa. Diante desse novo cenário, já existe, inclusive, consultorias especializadas em atender os interessados em reduzir esses percentuais. Fundada em São Paulo há mais de 10 anos, a H2C desenvolve programas de racionalização do consumo de água em pequenas e grandes instituições. A lista de clientes inclui shopping centers e lojas badaladas como a Daslu. Um dos projetos garantiu a redução de até 67% nos gastos da empresa. O diretor comercial da empresa, Paulo Costa, se orgulha da crescente procura pelos serviços, mas lamenta que o interesse financeiro sobreponha o interesse ambiental. "Com o lançamento do selo verde, a procura pelo uso racional de água subiu. Em 2003, por exemplo, haviam três empresas com este certificado. Em 2010 já temos 313 instituições contempladas."
Costa conta que a economia é conquistada a partir da substituição de produtos antigos por equipamentos modernos. Após uma avaliação da rede hidráulica, são trocadas torneiras, descargas e sistemas considerados inadequados para o uso contido da água. Um simples torneira automática pode economizar de 50 a 70% na conta mensal. Uma grande administradora de condomínio de São Paulo vem, há 10 anos, se desdobrando para gastar menos. De acordo com José Roberto Freitas, gerente-executivo da empresa, a melhor saída é mesmo contratar especialistas no assunto. "Começamos com um programa que tinha objetivo apenas financeiro, mas agora tornou-se obrigação ambiental", explica.
Com ajuda de todos os funcionários, o gerente de ecoeficiência e gestão do grupo Santander, Ricard Krook, garante que o resultado será sempre positivo. "Nós temos uma missão de reeducação do consumo de água em todos os setores da empresa. O funcionário precisa ser envolvido, não adianta apenas comprar tecnologia de qualidade. Além disso, a economia da empresa trará benefícios diretos para eles", argumenta .
O grupo Pão de Açúcar é outro que busca conciliar a expansão da rede com o uso de tecnologias sustentáveis. Somente em 2009, foram aplicados $ 45 milhões em investimentos para a construção das chamadas lojas verdes. Os projetos arquitetônicos dessas unidades são concebidos levando em consideração critérios internacionais que aumentam a eficiência no uso de recursos e diminuem o impacto socioambiental no processo da construção. A previsão é que seja possível economizar até 30% em energia elétrica, 35% em emissões de carbono e 30% a 50% de água. Para racionalização do uso dos recursos hídricos, a instalação de torneiras com comprovada melhoria de rendimento e vasos com possibilidade de escolha de vazão chegam a reduzir em 40% o volume utilizado. Além disso, o sistema de ar-condicionado também foi especialmente projetado para climatizar os ambientes sem utilizar água.
Selo verde
O Green Building Council Brasil (GBC) é uma empresa que promove a construção sustentável no país. O selo verde foi criado pelo grupo e é uma forma de incentivar as empresas a projetarem seus prédios com sistemas e equipamentos ecologicamente corretos. É uma certificação para organizações sociais, órgãos governamentais ou empresas privadas que têm projetos com energia solar, materiais que utilizem o reuso de águas das chuvas. Elas devem adotar procedimentos na gestão dos resíduos da construção civil, trazendo benefícios ao meio ambiente. A missão é promover a conscientização sobre responsabilidade ambiental no setor industrial ou empresarial. A partir do conceito de consumo consciente, há uma conciliação dos interesses sociais e econômicos com os ambientais. Na prática, o projeto funciona com a supervisão de engenheiros, arquitetos, biólogos. Esse incentivo, promovido pelo GBC está presente em 41 países
Palácio do Planalto dá exemplo
Não são só as empresas privadas que estão em busca de soluções para economizar água e reduzir os gastos com as contas. Em reforma desde março de 2009, o Palácio do Planalto está instalando um sistema para economizar água nos banheiros da sede do Poder Executivo em Brasília. Além de válvulas com sensor nos mictórios, o uso de torneiras com fechamento automático deve render a economia de até 77% no consumo de água.
Depende de todos nós
Hábitos simples, como utilizar a água da chuva para lavar garagens ou irrigar plantas podem fazer uma grande diferença para o futuro do planeta. De acordo com pesquisas da Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), 70% do gasto de água tratada no país é feito dentro de casa. Em cada residência brasileira, cada pessoa gasta em média, por dia, 250 litros de água. Uma torneira mal fechada, por exemplo, gasta em média de 12 a 20 litros de água por minuto. De pingo em pingo, no final de um dia, a falta de atenção manda por ralo abaixo 46 litros.
Embora muitos brasileiros ainda insistam em lavar calçadas - hábito que pode desperdiçar 280 litros em apenas 15 minutos - cresce o número de pessoas com atitudes hidricamente responsáveis. A musicoterapeuta Beatriz Agostini decidiu adaptar a casa onde mora, localizada em um condomínio no Jardim Botânico, para economizar o máximo de água possível. "Fui percebendo que, à medida que o homem contamina as águas e esgota os recursos da natureza, seremos muito prejudicados no futuro". Para por em prática a ideia, ela contratou um arquiteto especializado em projetos ambientais, que providenciou as mudanças. Uma delas foi a construção de um banheiro seco, que funciona sem descarga. Nesse sistema, os dejetos não seguem para o esgoto e são utilizados na fabricação de adubo. E engana-se quem imagina que o equipamento é sinônimo de cheiro ruim. Acondicionados em fossas especiais, os resíduos não produzem odor desagradável.
A captação e reutilização da água da chuva foi outra atitude adotada por Beatriz, que investiu na aquisição de reservatórios com capacidade para 50 mil litros. As chuvas garantem à musicoterapeuta banhos, a irrigação de plantas, a lavagem do carro e até das roupas. Como consome pouca água da companhia de abastecimento - apenas para beber e cozinha - a atitude sustentável rende ainda mais. A cada mês, ela paga apenas a taxa mínima cobrada pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF, com gasto que varia de 10 a 15 mil litros.
O especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas, Cláudio Itaborahy, avalia que a sociedade está mais consciente, mas ainda precisa avançar. "Nos lares, muitos ainda não querem abrir mão de banho mais demorado, embora esta seja uma das principais causas do gasto excessivo de água. Não havendo medição individual, por exemplo, não se importam muito, pois a conta da água é dividida e quem utiliza menos acaba pagando por quem gasta mais", pondera. Por outro lado, ele destaca que a tecnologia tem contribuído para o desenvolvimento de sistemas hidráulicos mais racionais.
Fazendo a diferença
Confira dicas para economizar
- Ao lavar a louça, feche a torneira. Dessa forma é possível evitar o desperdício de até 100 litros de água. Lave todos os pratos, panelas e talheres e depois enxágue tudo de uma vez
- Só use a máquina de lavar louça quando houver pratos e objetos suficiente para enchê-la
- Não despeje óleo de fritura na pia. A gordura entope canos e dificulta o tratamento do esgoto
- Feche a torneira ao escovar os dentes e economize 25 litros de água
- Tome banhos rápidos, de até cinco minutos. As chuveiradas mais demoradas gastam de 95 a 180 litros
- Depois de usar, feche bem torneiras e chuveiros
- Verifique se a descarga do vaso sanitário está bem regulada, para que elas não gastem mais do que os habituais
- Ao comprar um vaso sanitário, dê preferência aos que possuem duas opções de intensidade da vazão de água
- Ao usar máquina de lavar, espere juntar a quantidade de roupa equivalente à capacidade máxima do equipamento
Fonte: Correio Braziliense