Gênero e ciência, um debate necessário
Seminário na CAPES debateu questões sensíveis da participação das mulheres na produção de conhecimento
O termo ciência passa uma ideia de rigor e neutralidade. Contudo, se conferirmos quem são as pessoas atuantes na pesquisa, e no meio acadêmico, poderemos ter uma surpresa: enquanto as mulheres são maioria nos cursos de pós-graduação no Brasil, os professores são, majoritariamente, homens. Atenta a esse descompasso, a CAPES promoveu o seminário ‘Educação: palavra feminina’, na quarta-feira, 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.
Na fala de abertura, a presidente da CAPES, Mercedes Bustamante, apontou a responsabilidade da Fundação na promoção de oportunidades. “Temos mais bolsistas mulheres e mais formandas. A dificuldade é incrementar os números nas etapas mais altas da carreira. E a CAPES tem um papel importante como indutora, como agência de fomento”, lembrou a gestora.
Apenas uma em cada três áreas do conhecimento apresenta níveis equivalentes de ocupação entre mulheres e homens, revelou a professora Leticia de Oliveira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Na ciência, existe uma baixa representação em posições de destaque e liderança, que é a segregação vertical. Também existe pouca presença de mulheres no Colégio de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar, e isso é uma segregação horizontal”, afirmou Letícia, que também atua como presidente da Comissão Permanente de Equidade de Gênero na instituição.
Uma explicação para o fenômeno da baixa representatividade estaria na própria origem da academia, defendeu Tânia Mara de Almeida, professora da Universidade de Brasília (UnB). “É um fenômeno social e não pontual. Portanto, precisa ser enfrentado com políticas públicas”, afirmou.
No entendimento de Marcia Serra Ferreira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o problema das relações de gênero deve ser combatido no espaço público: “A violência contra a mulher está dentro de nossas casas e dos nossos postos de trabalho. Cabe a nós, das instituições públicas, apoiar a luta das mulheres”.
Márcia Abrahão, reitora da UnB, explicou que a busca pelos direitos das mulheres deve ser um esforço constante: “As dificuldades são imensas, e as mulheres sofrem muito mais, porque a responsabilidade recai muito mais sobre elas, sobre nós”.